o céu partido ao meio, no meio da tarde.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Passara os dias todos esperando o inesperado. Sentira sempre, em seu interior, que só seria feliz mesmo quando estivesse completo. Enganou-se. Confundiu-se. E percebeu que a confusão nem era tão ruim assim.
Sentia um leve peso no peito, nem tão leve a ponto de não se notar, mas nem tão pesado, a ponto de transbordar-lhe aos olhos. Sentia uma calma turbulência palpitando fundo, não se sabe onde.
Sentado, ouvira-o falar claramente o que se passava enquanto as palavras lhe passavam assim também: desenxabidas e desinteressantes e cruéis, ao mesmo tempo. Surpreendeu-se logo ao dar-se conta de que era diferente, que não o feria mais como outrora e que a desordem de-um-do-outro-de-ambos sonava gentilmente divertida, sutilmente intrigante e nova.
Deitaram-se os dois e, como sempre havia de ser, os dois corpos se tornaram um: um dentro do outro, um invadindo o espaço oculto do outro, um penetrando, outro gemendo, os dois satisfeitos. E pensava - "minha confusão, somada a tua, só podia dar nisso mesmo: o entrosameto perfeito dos corpos na cama". Logo se foi, levando consigo a saliva no pescoço e, como troca de favores, deixando o cheiro viril de uma noite a mais, na extremidade da boca do outro.
Tratou ligeiro de tomar algo, mas não encheu o copo. Havia tido a experiência de que estar completo não tem graça, que mais vale um copo pela metade do que dois corpos dispersos voando. Nem muito cheio, nem muito vazio, nem tudo, nem nada. Um pouco de cada vez, pra apreciar devagar o gosto amargo da descoberta e respirar fundo o ar forte e atrativo da confusão do sexo, entre o mesmo sexo.

F;

2 comentários:

Luna disse...

li num folêgo, e meu folêgo é curto.
adoro esse céu de saudade daqui.

Larissa Minghin disse...

você é lindo!