o céu partido ao meio, no meio da tarde.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Ecos

Sentar-se. Sentar-se e escrever. Mover os dedos em forma de dança e ver qual balé a mente cria.
Sentar-se sem sentir-se. Estranho, não? Estranho abrir-se um buraco, saltar com o olhos fechados nesse espaço, sem medo e descobrir que não há nada. Nada. Não há nada. É puro oco e eco. Retumba. Nas paredes de dentro, se é que existem paredes. Já não se sabe mais se existem essas construções internas.
Cansaço. Físico e mental. Mais físico do que mental. E mais mental do que se podia esperar, ou imaginar, se tudo não passa de invenção. Um invento daqui, outro invento dali e Salvador Dali que nem mesmo pôde se salvar! Sem nexo. Vírgulas e pontos jogados no texto como uma chuva fina, infectada, que sai de um espirro. De tinta cor-da-pele. Ah, claro! Existe a pele. A carne. O desejo. Tudo basado nisso e transferido a um cigarro atrás do outro. Por favor! Quanta compulsão! (acendo outro).
Difícil escrever quando não se escuta a si mesmo. Difícil relatar o que não pode ser traduzido, o que passa tão rápido na mente que os dedos não acompanham. Mente que mente, sem vergonha. Sem nada. E estar sem nada é estar com tudo? Maldita língua, pro caralho com tudo mesmo. Caralho. Já voltamos ao desejo. E desejo de que? É possível desejar algo que nem faz parte do desejo? Da concepção do mesmo? Eu mesmo já nem desejo, ou desejo não desejar. Merda, me confundi e fiquei enjoado. Me dou enjoo, e nem sequer posso me vomitar. Vomito nas minhas entranhas. Vomito o desejo indesejável em cada cigarro aceso, em cada fumaça cinzazul que sobe bem na frente do meu olho. Dói. Nem sei se dói. Nem sei da dor. Nem sei, e não saber é foda, é foda pra caralho. Caralho. Outra vez o desejo?  Que nada. Só palavras pra preencherem um espaço vazio. Palavras jogadas assim com força pra rebater. Mentira, sem força nenhuma, se já não existe parede, onde as palavras retumbariam? No eco. Éca! Enjoo de novo.
Fumo um último trago, jogo a fumaça com força (força de verdade) sem me preocupar qual caminho que ela vai tomar. Meio fumaça, meio vazio, meio oco, meio eco. Metade de um som que nem chegou a soar. E nem vai soar! Porque o corpo pede descanso, talvez a mente pede descanso, mas a mente mente, num mundo onde as verdades são inventadas.
Inventar um sono agora e me jogar no limbo. Fechar os olhos e, como de costume, brincar com a cabeça. Picar alguns tomates, esperar algum trem, até que o sono venha e eu volte a inventar, não nesse mundo, senão no outro. No mundo inventado. Na mente que mente, que inventa, que ecoa num grande estacionamento de ideias, de silêncio.
De ecos.
E de silêncios.

F;


Um comentário:

Fábio Luporini disse...

inspirador.