o céu partido ao meio, no meio da tarde.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Ave Saudade.

Tentava exprimir a saudade contra a parede. Tentava colocar em pequenos frascos, esconder debaixo da cama, jogar pela janela, mas sempre sobrava uma parte. E essa parte sempre mudava de tamanho. Nunca menor. Sempre inflada, sempre grande, sempre inalcançável. Ele crescia e a saudade dentro dele crescia também. Tão grande era a distância, tão grande era, muitas vezes, a tristeza, tão grande era a saudade, tão grande era a dor. Tão grande tudo e ele ali, pequeno. Coração de criança na mão. Passarinho que aprendeu a voar desejando o ninho. E asas pra que te quero! Voava alto, sempre voou alto. Passarinho que aprendeu a voar longe, que voava longe, que voava alto, mas sempre com o ninho no peito. Passarinho mutante. Passarinho com asas de sentimento, que todos os dias pede pelo ninho. João-de-Barro construindo sua casa em galhos frios, secos, argentinos. João-de-Barro pousado na superfície mais alta da árvore, olhando sempre em direção ao que ficou atrás, ao que falta. Passarinho contentetriste, respirando a brisa paranaense na tentativa de reconhecer o cheiro do ninho, de matar a saudade no ar que vem do sul.
Pássaro pequeno com olhos de águia. Agora com os olhos cheios d'água, esperando o inverno chegar pra voar de volta pra casa.
Passarinho-Criança-Homem desejando ser passarinho-criança para sempre. Adulto na pele de Peter Pan, espreitando o momento exato de pousar em casa para se encher, para respirar, para recuperar forças e abrir as asas novamente. Passarinho submetido ao voo constante.
Passarinho cheio de asas, cheio de amor e, principalmente, cheio de saudade.

F;

2 comentários:

Luciano disse...

Belo texto. Trouxe uma identificação com um dos meus eus!

marianvianna disse...

meu deus eu acordei assim essa manhã, querendo ficar querendo acabar com essa saudade constante. eu sinto saudades antes de ir embora é louco. sinto saudade de você também!