o céu partido ao meio, no meio da tarde.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Amar é ciclo

Sonhava uma e outra vez o mesmo sonho no intuito de controlar o resto diurno, de controlar o que acontecia, onírico, e tapar a manifestação inconsciente do desejo. Sonhava uma e outra vez entrecortado: o sonho era sempre o mesmo, mas o sono se dividia em pedaços, como uma grande pizza colocada sobre o próprio limbo interno. Sonhava mais uma vez até que uma voz de rugido veio quebrar o encanto: o desfeitiço era como uma luz que estupra a escuridão e ingressa, sem licença, por debaixo da porta. A voz invadiu a sétima sonolência, estapeando a lentidão dos que dormem e colocando-o na realidade dura e doce de se despertar com uma poesia falada. "Te amo de uma maneira profunda, como quem ama o escuro e a sombra", ouviu. E nesse mesmo instante seu corpo respondeu a prosa, seus olhos atreveram-se a rasgar a falta de visão e seus ouvidos voltaram a estar presentes. Sua mãe, como uma grande ninfa cor-de-rosa a altura de seus ombros, ria-se da desconexão do discurso de uma parente. "Hoje estou bem cachoeira, irei atrás de um cachorro..." dizia a prima.
Sonhava uma e outra vez o mesmo sonho. Ou seria o amor, que escuro e sombra e luz vinha rir da sua cara?
Amar é como ir atrás de um cachorro.
E entregado como uma pena ao léu, escondeu a cara entre as mãos e amando ensinou seus olhos a dormir mais uma e outra
vez.
F;

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