o céu partido ao meio, no meio da tarde.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Sal de Nápoles (in bocca)

Em frente aos mamilos da terra a cidade inteira se sentava. No pranto dos céus, tão azul e salgado, se notavam os matizes mais claros que os barcos deixam ao passar, lentos e sujos, quando provocam as ondas. Uma pincelada de outro tom desenhava curvas nessa imensidão líquida que aqui se denomina “il mare”.
Quatro crianças brincavam na madeira antiga dum veleiro velho e podre apoiado em diagonal, que disputava a atenção dos humanos e das pombas.
Então eu quis ser pomba.
Talvez voasse para outra costa ou outras montanhas. Porque neste antiquário de ruas estreitas os pássaros são objetos: os que têm asas, aqui, são enjaulados.
A liberdade me gritava do lado de lá e o meu peito, idiota, não reconhecia a sua voz.
O mar e o vento frio me beijavam com saudade. Era o beijo dos tolos: dos que sentem o gosto de tudo aquilo que ainda não viveram.
F;

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