o céu partido ao meio, no meio da tarde.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

A dor dos rosários

Mas se a tua alegria contagiava a casa
e o teu silêncio 
abraçava a família inteira. 

as mãos  de panela
e o umbigo de avental,
entre os tanques e as massas de pão 
sovadas com a força 
das que resistem:
a comida egrégia 
e o cuidado materno

Poxa, vó 

a gente sabe que é ciclo
que o teu nascer forte
se esvai em resmungos deslucidos,
mas a dor dos teus rosários 
se espalha
e consome cada um de nós. 

teu peso redondo 
afundado na cama
nos derrete sempre que os teus olhos,
brancos de fadiga e espera,
nos miram pedindo auxílio. 

Não sabemos como reagir. 

E eu, vó,
na minha estúpida impotência 
só versejo o grito 
que se oculta
detrás da garganta
e, como em oração,
destilo palavras no ar
emburrado com o modo das coisas
e com a vida
e com tudo o que há. 

Tua raiz grossa
te transforma em planta,
mas os teu desvarios não serão em vão:
o teu pedido será ouvido, vó
e os teus punhos fechados 
nas longas tardes de reza
confortarão o teu peito

e os nossos corações
também reconhecerão as preces
que fizestes todos os dias
com teu amor extendido
num guardanapo
sobre nossas
cabeças. 

F;

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